Pacientes com doenças graves ou crônicas que precisam de medicamentos de alto custo e uso contínuo continuam sofrendo duplamente: primeiro com a doença e, segundo, com o despreparo do Estado, mais especificamente da Secretaria de Saúde (Sespa), que continua a fornecer esse tipo de medicamento de maneira bastante irregular. Isso quando fornece.
K.D.S, de 30 anos, mora em Igarapé-Miri. No início do primeiro semestre fez uma cirurgia de endometriose na Maternidade do Povo. A doença acomete as mulheres em idade reprodutiva, impedindo a gravidez e afetando a reprodução.
“Após a operação, o médico receitou Zoladex de 10,8 miligramas, injetável. Ela tinha que tomar a primeira dose 10 dias depois da cirurgia. Tentamos de todas as formas conseguir o medicamento, que é caro, na Sespa, mas todas as tentativas foram frustradas”, diz J., tia de K. As duas, por questões de foro íntimo, preferiram não se identificar. A dose única do medicamento custa R$ 1,7 mil numa rede local de farmácias da cidade.
A tia da moça fez uma verdadeira peregrinação na busca pelo medicamento. “Fomos na sede da secretaria, no Ofir Loyola e nada. O medicamento até que existia numa determinada época, mas a dosagem era menos da metade do que o médico recomendou”, explica.
>> Burocracia é o grande entrave para quem corre contra a doença
Na Sespa, a burocracia foi grande. “Tínhamos que juntar uma série de documentos da minha sobrinha, inclusive o laudo histopatológico do material recolhido dela, só que esse laudo sairia mais de um mês depois, e ela precisava do medicamento em 10 dias”, relembra.
K. possui uma padaria junto com o marido em Igarapé-Miri e não possuía condições de comprar o medicamento.
Com muita dificuldade coletou o dinheiro entre parentes e fez pequenos empréstimos e conseguiu comprá-lo. Nova dosagem teria que ser aplicada em três meses.
“Ainda assim, deixei toda a documentação da minha sobrinha na Sespa e esperei um retorno do setor responsável, mas nada… Uma das servidoras que me atendeu foi exonerada da secretaria e, quando retornei lá, soube que toda documentação que havia deixado, inclusive o laudo, havia sido perdida”, revela J.
Resultado: a paciente não conseguiu nenhuma dose do medicamento do governo e já comprou duas caixas do próprio bolso. A próxima será tomada na primeira semana de novembro.
“Todos nós fazemos um sacrifício muito grande para ajudá-la, pois ela não poderá ter mais filhos em razão da doença, que pode voltar se ela não tomar essa medicação”, diz a tia.
Segundo ela, devido às dificuldades, a sobrinha já desistiu de buscar ajuda do governo e prefere buscar sozinha os meios para obter o remédio.
>> Sespa não responde sobre o problema
A endometriose é uma doença congênita. É uma espécie de menstruação fora do útero que causa dor pélvica, dor na relação sexual e infertilidade. “Estudos mostram que essa doença é causa de 80% dos casos de infertilidade feminina”, esclarece o médico Albertino Bastos, presidente da Sociedade Paraense de Ginecologia e Obstetrícia do Pará.
Ele explica que o endométrio é o tecido uterino interno e a endometriose é um problema que ocorre com esse tecido fora do local uterino. “Existem vários tratamentos para o problema, mas o efeito com o Zoladex é o mais efetivo. Caso o uso do medicamento seja interrompido, a doença volta”, explica o médico.
“O Zoladex funciona como uma espécie de anti-hormônio, causando a menopausa terapêutica e, por consequência, a interrupção do sangramento. É bastante complicado parar de forma abrupta com o tratamento”, diz Albertino.
Acometendo cerca de 10% das mulheres em todo o mundo, a endometriose diminui substancialmente a qualidade de vida das mulheres, uma vez que a dor pélvica é frequente, e muitas vezes incapacitante até para as tarefas mais simples.
“Este medicamento (Zoladex) é essencial para as mulheres que desejam ter filhos, porém o principal problema não é o custo. Além da falta do remédio, existem práticas não recomendáveis feitas por funcionários da Sespa que estão prejudicando a aquisição do produto e transformando o sonho dessas mulheres em pesadelo”, revelou uma fonte que já trabalhou na secretaria e que prefere também se manter no anonimato.
A Sespa estaria comprando os medicamentos de alto custo e uso contínuo de forma emergencial, ou seja, quando o valor comprado é equivalente ao valor integral. “Quando há necessidade de adquirir medicamentos deste tipo, o Ministério da Saúde determina que seja usado o pregão eletrônico (licitação) para que o valor seja reduzido em até 50%. O problema é que isto não está sendo feito aqui no Estado”, esclarece.
Como exemplo, ele cita os pacientes tratados com esclerose múltipla e esclerose lateral amiotrófica no estado, que gastam cerca de R$ 7,2 mil por mês. Segundo a fonte, este grupo corresponde atualmente a 90 pacientes – o que soma R$ 648 mil por cada compra. Apesar deste tratamento ser trimestral, se houvesse o pregão eletrônico, o gasto poderia ser reduzido para até R$ 324 mil. “Sendo assim, se existem medicamentos que podem e devem ser comprados mediante licitação, para onde vai este dinheiro?”, questiona.
A despeito de não ter informado o nome da paciente prejudicada com a falta do medicamento, O DIÁRIO encaminhou via e-mail, na última quinta-feira, uma série de questionamentos acerca da questão para a Assessoria de Imprensa da Sespa. Nenhuma resposta foi enviada até o fechamento desta edição. Houve ainda várias tentativas de ligação para o celular da assessoria da secretaria na manhã e tarde da última sexta-feira mas, em todas as ocasiões, o telefone estava fora da área de serviço. (Diário do Pará)
Nossa, eu só li verdades…. minha filha teve que comecar a fazer tratamento para puberdade precoce, e como não tenho condições de comprar o remédio, pois é muito caro, a médica me deu os documentos para levar na sespa, de 8 meses de tratamento a sespa só me ajudou com duas doses da medicação. A burocracia é muito grande. A médica da minha filha tinha pedido 3 dose para ver se liberavam todas de uma só vez, visto que moramos em outra cidade, e para irmos todos os meses é complicado, pois tem gasto com passagens, locomoção, comida, fora o risco de ser infectada por covid e estar passando para minha família, mas infelizmente eles querem que eu vá todo mês lá buscar a medicação…. é muita humilhação.
Eu sou kelly soares, da cidade de Oriximiná- PA.