Em 2011, houve o dobro de licitações para contratar instituições bancárias
Vinícius Neder
vinicius.neder@oglobo.com.br
A “guerra” entre Bradesco e Itaú Unibanco pelas contas dos servidores do Estado do Rio se repete também no plano nacional. Em 2011, o número de licitações de órgãos públicos para contratar bancos responsáveis pela folha de pagamento dos servidores praticamente dobrou: foram 114, contra 68, em 2010.
Segundo levantamento feito a pedido do GLOBO pela ConLicitação, empresa que presta serviços de acompanhamento de licitações públicas, os bancos pagaram R$ 635,3 milhões nos 114 contratos. Em 2011 além do caso do Estado do Rio, os destaques foram a folha dos servidores do Amazonas, concedida por R$ 300 milhões, e a dos funcionários do município de Osasco, na grande São Paulo, por R$ 62 milhões.
O valor total de 2011 foi inferior ao registrado em 2010, quando os contratos envolveram R$ 923 milhões, segundo o levantamento, baseado em amostra de licitações em cujos resultados foram publicados valores.
Funcionário público, o cliente ideal para o consignado
A disputa entre os bancos tem razão de ser. Com a estabilidade e um empregador mais protegido de dificuldades financeiras ele dificilmente perderá o emprego, explica o consultor Roberto Luís Troster, ex-economista-chefe da Febraban, a federação dos Grandes Bancos, e da ABBC, representante das instituições de pequeno e médio porte:
– O funcionário público é o cliente ideal para o consignado.
Os funcionário públicos absorvem 85,6% do crédito consignado, que atingiu R$158,6 bilhões em dezembro, segundo dados do Banco Central (BC). Essa modalidade responde por 58,4% do total do crédito pessoal, em R$ 271,8 bilhões. e Troster estima que o consignado gere receita de R$40 bilhões para os bancos – considerando um retorno de 30% ao ano sobre o total de crédito disponível no fim de 2011.
– Para além do consignado, o funcionário público é um bom cliente para todos os produtos bancários – diz Ricardo Anhesini, sócio da consultoria KPMG .
No Rio, a disputa por esse mercado ficou evidente na virada do ano, quando os servidores estaduais passaram a receber seus salários pelo Bradesco. O banco levou a folha de 460 mil funcionários públicos ativos e inativos ao arrematar, em maior, por R$ 1,773 bilhão, o banco do Estado do Rio de Janeiro (Berj), parte do Banerj que não foi privatizado em 1997.
Antes os servidores recebiam pelo Itaú Unibanco, que comprou o Banerj. O Itaú Unibanco lançou campanha incentivando os servidores a manterem suas contas e pedirem a transferência do salário – 203 mil servidores fizeram isso.
Desde 1º de janeiro, vale a regra da portabilidade para contas-salário de órgãos públicos. O empregado tem direito a transferir o pagamento, automaticamente e sem custos, para a conta que preferir. Com isso, a disputa fica mais acirrada. Troster lembra que a disputa pelos servidores começou com a privatização dos bancos estaduais, tradicionalmente responsáveis pelo pagamento de servidores. Hoje, os órgãos públicos fazem licitações para escolher os bancos.
Para Anhesisni, o aumento do número de licitações, com redução nos valores pagos pelos bancos nos leilões, pode ser uma tendência. O fator mais importante é o número de funcionários e o valor pago em salários.
Disputa pode beneficias clientes
Tarifas melhores e vantagens são oferecidas
A disputa entre Itaú Unibanco e Bradesco pelos servidores estaduais do Rio incluiu ofertas e vantagens dos dois lados. Com a concorrência acirrada, os clientes podem ter mais opções. Esse processo pode ser acelerado pela estratégia do governo de usar Banco do Brasil e Caixa para reduzir o spread (diferença entre o custo de capitação e taxas de juros ao consumidor), como revelou O GLOBO.
À época da migração dos funcionário do Estado do Rio, o Bradesco ofereceu benefícios, como dez dias sem juros no cheque especial e isenção de um ano na cesta de serviços para os novos correntistas. Já o Itaú ofereceu pacote de tarifas com isenção até 2014. Sua estratégia incluiu ainda envio, por mala-direta aos então clientes, de um modelo de carta pedindo a portabilidade.
Apesar da disputa de ofertas, o consultor Roberto Luís Troster vê pouco espaço para uma melhora de tarifas e taxas para os clientes de bancos. Segundo ele, a probabilidade tem pouco impacto, pois poucos cliente usam o direito. Já para Ricardo Anhesini, da KPMG, o impacto final poderá ser positivo para o consumidor. Não há dados precisos, mas, segundo o especialista, estima-se que 15% dos trabalhadores têm usado o benefício.
Nas taxas de juros, segundo Troster, as variáveis são mais complexas. A alta carga tributária sobre o crédito e excesso de recolhimentos compulsórios (parte dos recursos dos bancos que ficam o BC) ajudam a elevar as taxas. (Vinícius Neder)
Fonte: jornal O Globo de 26 de fevereiro de 2012